segunda-feira, 2 de abril de 2018

Três poemas escrevividos por Tayná Corrêa

Só custa o sorriso

Há uma fratura exposta
E o risco de infecção
O corpo deslocado
Em estado de petição.
Cláusulas nos deixam enclausurados
Encucados, encarcerados, esbaforidos, em grave quadro.
Toma enquadro na sala e no portão
O currículo digitado pensado pra inserção
No mercado, mercado de trabalho
Que brinca com teu sustento, te compra e vende pela metade do preço.
Promoção, custa só teu sorriso
Numa boca desdentada, que por nada perdeu o siso.
Veja isto, isto é, na folha de São Paulo somos as letras do roda-pé.
Quem sentiu a brisa forte, sabe o preço de uma noite
Espera pela manhã pra ver se pede o reembolso.
Troco? Quem te viu e quem te vê.
Tá barato pro patrão, quase de graça pra patroa.
A força de trabalho, Senhora, só custa teu sorriso.
Cada caso de injustiça é um copo de veneno, quem bebeu morreu
O culpado não sou eu, é quem comanda esse museu.



Hipotenusa

Obtusa pelo ângulo que tenho visto as coisas
de canto observo as linhas traçadas
360 é o grau, cada dia um degrau
5 são excedentes dos que desisti
busquei na Geometria, o que o feudalismo comprimiu
medida de terra? gritei, quem ouviu?
eu? mulher? ainda mais, preta...
nessa figura sou hipotenusa, 
aquela que  se estende debaixo
esperando pela tangente que é uma
linha que toca num ponto da outra sem a cortar.
Enfim, tão complicada como a vida da mulher que é a matemática,
dilata as vistas, fria espanta, frente às contas que vem somando
e sempre que negativa nessa equação
não dá solução!
Hipotenusa, medusa, medula, carne fria
Pia, chia, grita, fica à moda antiga,
Dá barriga, fadiga, dá à luz, sente sozinha.
Sexo frágil? mas quem fugiu foi quem a enchera.
-- Vai ter de prestar contas, vivendo a vida em plena Somália.
Se desse conta justa talvez se somasse,
mas nos gráficos é estatística.
Morte, estupro, desemprego e revelia.
Ah! do seu grito faz canto, ainda canta em plena palmatória
como se já estivesse em dias de vitória.




Hoje foi

É que hoje foi propício,
mas não é de hoje não
que eu tô me arrastando
observando minha boca
encher de pó
sendo levada por qualquer
emoção
desmotivada por qualquer
desdém.
Não é de hoje que eu ando
desconexa
Perplexa, pensando numa
maneira de ser menos
complexa.
E quando me perguntam:
Está tudo bem?
Quase sempre minto.
Penso que essa é uma pergunta vagabunda
já que tudo é "tudo"
e às vezes uma resposta nem
fica bem.
Tô me convencendo
que hoje eu tô vencida
de faz tempo
e posso estar dando
viajem perdida.
Mas qualquer coisa tô
levando meu caderninho,
pra escrever e ir
denunciando a vida.

Tayná Corrêa














Pedagoga, estudante de teatro, escritora de poesia, rapper, integrante do coletivo Sarauêras.

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