A cearense Jarid Arraes é escritora, cordelista e poeta. Tem publicados os livros As lendas de Dandara, um romance que conta a história de Dandara dos Palmares desde o seu nascimento à sua morte; e Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis, uma compilação de quinze cordéis que apresentam mulheres negras que têm grande importância na história do Brasil, mas que são pouco ou nada (re)conhecidas; além de mais de sessenta cordéis publicados individualmente e confeccionados pela própria cordelista. Ela criou o Clube da Escrita Para Mulheres e é curadora do selo literário Ferina. Neste ano de 2018 está lançando o seu primeiro livro de poesias: Um buraco com meu nome, que teve o número de compras, na pré-venda, ainda maior do que a pré-venda do seu livro mais conhecido, o Heroínas Negras Brasileiras.
Jarid nos concedeu uma entrevista, e falou sobre Um buraco com meu nome:
LR: Você é bastante conhecida por seus cordéis e tem, também, um livro em prosa publicado (As Lendas de Dandara). Como foi pra você construir uma obra toda composta por poesias?
Jarid Arraes: A poesia sempre foi meu "tipo principal" de leitura. Na verdade, eu cresci lendo poesia, não só a poesia de cordel, é claro, que eu faço questão de afirmar como tão poesia como qualquer outra, mas muitos poemas que li ainda no início da adolescência. Lembro de ter ficado maravilhada quando li Carlos Drummond de Andrade, sem conseguir compreender como alguém poderia criar algo daquela forma, se expressar daquele jeito. E eu escrevia minhas próprias poesias, tentando "copiar" o estilo de cada um dos poetas que eu lia. Então não é que a poesia seja um pulo incomum para mim, eu escrevo poesia "desde sempre" e sempre quis publicar meus poemas, é só que outras coisas foram acontecendo antes. Principalmente, porque eu precisava cumprir algumas etapas primeiro, precisava passar por esse processo de resgate de uma identidade fragmentada, precisava construir esse lugar, afirmar essa luta, marcar bem um espaço e uma voz. Acho que meus outros livros falam muito disso. São como minhas raízes. E é claro que esse livro novo continua profundamente político; são poesias políticas, todas elas. É apenas uma linguagem diferente. O desafio maior não está na escrita, mas em como apresentar esse trabalho para o mundo, que está habituado a um outro tipo de literatura vinda de mim.
LR: Você já lançou uma prévia de Um buraco com meu nome. Como está sendo o retorno das leitoras e leitores?
Jarid Arraes: O retorno tem sido maravilhoso. Compartilhei três poemas diferentes, na expectativa de compreender a resposta dos meus leitores e de leitores que ainda não me acompanhavam, e fui surpreendida por uma chuva de comentários, de compartilhamentos nas redes sociais. São poemas que escrevi a partir de um lugar muito genuíno, então é especialmente reconfortante ser compreendida, ver que aqueles versos possuem significado para outras pessoas. Um significado que vai além de mim. Do meu ponto de vista, tem que ser sobre isso. Porque, como autora independente,
numa editora independente, eu não tenho os privilégios do grande mercado, das grandes mídias. O meu sucesso é ter uma relação verdadeira com quem me lê. Se eu tenho isso, tenho o que mais importa.
LR: Seu mais novo livro será, também, o seu primeiro lançamento no selo Ferina. Para as pessoas que ainda não conhecem o projeto, você pode contar um pouco sobre? Qual a sua sensação e as expectativas com essa conquista?
Jarid Arraes: O selo Ferina é a realização de um sonho que nutro há um bom tempo. Desde que criei o Clube da Escrita Para Mulheres, com a intenção de estimular e apoiar mulheres que escrevem ou querem escrever, eu queria ter uma editora que pudesse publicar essas mulheres. Com a parceria e amizade que fiz com a Lizandra Magon, da Pólen (que publicou o meu Heroínas Negras Brasileiras), as coisas foram se encaixando. Nós vimos que era a hora de criar essa editora, que se transformou na figura de um selo -- já que a Pólen já é uma editora -- para publicar mulheres diversas. E eu fiz questão que existisse um Conselho Editorial formado por mulheres, que trabalham com livros, e que são também diversas, indígenas, negras, trans, jovens, idosas, lésbicas, bissexuais, brancas, do nordeste, de outros países da América Latina, enfim. Eu sou a curadora da Ferina e é minha responsabilidade ler originais e selecionar essa diversidade de mulheres para publicação; garantir que não repetiremos os erros do grande mercado, acho que é o mínimo, tendo em vista todas as críticas que sempre faço. E é também um orgulho. Digo que quando há desejo, é possível. E fazemos.
LR: Quais os eventos de lançamentos de Um buraco com meu nome já confirmados? Deixe aqui o seu convite!
Jarid Arraes: O primeiro evento de lançamento foi durante a FLIP, lá em Paraty, dia 27 [de julho], na Casa da Porta Amarela. A Casa é um espaço de editoras independentes, onde a gente faz eventos, debates, oficinas. É um lugar maravilhoso, tudo nessa proposta de desafiar o "mais do mesmo". E também vai rolar lançamento em São Paulo, dia 18 de agosto, na livraria Blooks do Shopping Frei Caneca. É um sábado, a partir das 16h. Vai rolar sarau do Clube da Escrita Para Mulheres, microfone aberto, e eu vou "performar" alguns poemas do livro. Aliás, vale salientar que todo mundo que comprar o livro nos eventos de lançamento vai ganhar presentes especiais que preparei com muito amor, além de concorrer a sorteios. É minha forma de agradecer pelo apoio. ◼
Além dos lançamentos em Paraty e São Paulo, Jarid tem programado o lançamento de Um buraco com meu nome, traduzido pro francês, entre os dias 15 de 25 de outubro, na França.
Quem não puder comparecer aos eventos de lançamento e quiser comprar o livro pode acessar o site da Editora Pólen Livros e acompanhar as informações de livrarias físicas que venderão os exemplares, a partir das redes sociais da autora.
Jarid gravou um vídeo sobre Um buraco com meu nome, com exclusividade, para o canal Passos entre Linhas, confira: https://youtu.be/_a8f2iHFHvc
Lorena Ribeiro
Graduada em Letras Vernáculas pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), mestra em Língua e Cultura pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e doutoranda na mesma instituição. É criadora de conteúdo no Youtube e Instagram, junto com seu companheiro Rafael, no projeto Passos entre Linhas. No canal, o casal bate papos sobre livros, filmes e lugares que gostariam de compartilhar com o público. Pesquisadora na área da Linguística, Lorena segue, com Passos entre Linhas, mantendo acesa sua paixão pela Literatura.
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