Um texto sobre a gana de criar com as palavras.
Ter amor pelo livro. Ter amor pela gente.
Querida vontade, antes de se manifestar em prática, você foi pura observação. Te vi ali no meu desejo. Primeiro pelas pessoas. Segundo, pelos livros que carregavam as pessoas. Não é mentira que o exemplo cria flor na terra seca. Pois foi no amar alguém que amei os livros. Amar alguém que lê não é difícil. O amor pode morrer que a leitura continua.
O escudo é a palavra. Pena de faca é a caneta. E tem vez que o amor testa a nossa paz pelas pessoas. Por que né, como a mulher se defende do código macho de agressividade? Palavreia suas defesas. Gere argumentação. Seja brincante ou direta. Fura o alvo. Faz vazar, até que daquela boca não saiam palavras que justifiquem o mau trato de nossos corpos, mentes e futuros.
E se não tem pernas para chutar, armas para atirar, nem grana para comprar. Defenda-se com suas palavras, escritas do peito tiradas. Ah, eu quero ser escritora.
E leitora. Aquela que lê. Decodifica, compreende os sonhos e medos de tantas outras, do antes e do agora. Do depois. E quando a mulher negra se torna leitora, ela vive os traços da mente de todos. Suga as linhas, bebe dos saberes, escala as estruturas e constrói a coisa única que é sua realidade em próprias palavras.
Lê livro. Lê jornal. Lê revista suja. Lê fanzine sincera. Lê a receita e a bula. O contrato. As palavras do amor desconfiado. As cartas nunca entregues para a própria mãe. Ela é leitora.
E quando a noite cai, minha querida vontade, ela desperta para o lápis, para a caneta, para as teclas dos aparelhos digitais. No tempo do ônibus, nas horas do trem. Ela escreve. Firme e forte. As letrinhas nem tremem.
Ah, eu quero ser fazedora de palavras. Como Carolina e Conceição. Como a minha avó. Como a menina criança que, mesmo sabendo o real, inventa tudo de novo.
Malokêarô!
Bruna Tamires é escritora, leitora e desenhista. Faz zines e amor.
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