Fiar o tempo é um romance que narra uma relação conturbada e ausente entre pai e filha, atravessando dilemas da juventude atual e conduz os leitores a questões universais como o tempo e a memória, a beleza e o amor, a morte e a criação artística, questões essas que são atravessadas por temas tangentes aos jovens em nossa sociedade atual, como o imediatismo, o consumismo exacerbado e o niilismo. Dessa maneira, somos convidados a atravessar as anotações, os aforismos, os rascunhos do livro de Júlia e o luto de Antony recriando um passado que se debruça sobre o presente.
Antony tem uma filha, Júlia, a qual ele fica mais de vinte anos sem conhecer. Quando Antony finalmente decide se aproximar da filha e revelar sua verdadeira identidade, um acidente de carro acaba ceifando a vida dela e das suas outras três amigas: Malu, Lola e Milla, personagens que estão conectadas ao enredo e que se tornam personagens de Júlia e Antony.
Antony busca desenfreadamente reconstruir a memória de um passado ausente, remendando pedaços, tecendo fios soltos das passagens e memórias tecidos pelo livro inacabado de Júlia. Como o fio de Ariadne, que guia Teseu no labirinto de Creta, os relatos de Júlia são a linha que guia Antony em sua dívida com o passado.
"O que é a memória? Penso que é como um novelo único e contínuo, enredado dentro de nós, que emerge à consciência em fragmentos, em variados graus, sendo essa emersão às vezes espontânea, às vezes uma resposta a um chamado da consciência. Fiar o tempo com as palavras é como costurar um traje de gala com retalhos ou tecidos gastos. Esse livro é como uma colcha de retalhos: tecido com os fios da memória alargada, bordado com o novelo do passado, distendido pela imaginação. É um livro que segue o fluxo da memória e que como ela também é inconstante, descontínuo, sem linearidade, com ritmos variados, como as faixas de um álbum musical. Talvez até mais que isso, pois esse livro engendra memórias, recria o tempo. Veja bem: recria, jamais volta no tempo. Visto que o tempo é irreversível, nunca volta atrás. Não se perde o passado, mas também não se pode repeti-lo. Não se vive duas vezes. O passado em si, tal como foi, jamais é revivido, recuperado. Mas não se deve lamentar! Podemos recriá-lo indefinidamente, de variadas formas, numa composição ou recomposição de intensidades variadas, em diversos níveis e alturas. Um salto no tempo, um mergulho no passado e a emersão dos seus traços na consciência é o que tenho feito nos últimos meses."
Assim, através do livro que Júlia começou a escrever, e não teve tempo de terminar, vemos a dicotomia entre passado e presente e como aquele interfere nesse. E Antony, que é leitor e narrador ao mesmo tempo, intromete-se no meio da história para dar sua opinião, fazendo-nos questionar quem de fato é o autor da obra.
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Nasceu em São Paulo, em 1982, mas cresceu em Atibaia, onde morou até 2016. Graduou-se em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo, em 2011, onde também concluiu o mestrado, em 2014. Atualmente, cursa o doutorado em Filosofia Francesa Contemporânea, na Universidade de São Carlos e leciona nas escolas da rede pública e privada. Escreve contos, poesia, romances e roteiros de longa-metragem nas horas vagas. Fiar o tempo é seu primeiro romance publicado pela Clube de Autores. Além desse romance, tem também publicado o livro A Ária das Águas.